quarta-feira, 30 de maio de 2012

R.I.P.

Quando tudo se tornar vago.
Quando todas as escolhas forem pontas soltas.
Quando não existir fim aparente, muito menos uma causa urgente.
Quando cada passo for apenas mais um passo.
Quando a imensidão do horizonte for linha rasa.
Quando as ondas quebrarem e mais nada.
Quando o vento uivar, mas não falar uma palavra.
Quando o sol brilhar, opaco, não iluminar.
Quando a roseira só tiver espinhos.
Quando a fala for muda e a visão turva.
Quando a gentileza for mera banalidade.
Quando a tolerância for apenas um enfeite.
Quando a temperança for ridicularizada.
Quando os liceus forem apenas templos vazios.
Quando pensar se tornar tarefa autômata.
Quando a razão for irrisória, ilusão burlesca.

Estarei jazente, de olhos semicerrados.
Lágrimas secas, sorriso irônico na cara.
Consciência límpida e obstinada.
Ciente de cada ação empregada.
Cada esforço dedicado a uma obra.
Na lápide, à espera, os dizeres:
"Até o último alento,
acreditou na humanidade.
Vencido, mas não derrotado.
Legado não deixa.
Apenas o silêncio de sua ação solitária."

domingo, 6 de maio de 2012

E as Nove embalam meu sono

E dança a fumaça do blend de Burley e Virginia, névoa que abre as portas do onírico, sedutora e hipnótica reticência de um dia cheio, mesmo que miragem, desejada avidamente.
Urânia, majestosa e celeste, me espera. Calíope, Polímnia, Euterpe e Erato cantam, em uníssono, cantigas de outrora, nostálgicas e sublimes, enquanto Terpsícore baila sob o firmamento do luar. Tália fita-me, sorri, e continua a colher passifloras. Melpômene declama versos de uma tragicomédia, docemente sarcástica. E Clio, sapientemente, proclama o ocluo de meus olhos e o provir de meu sonhar.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Dicotomia Astral

E somos filhos dos ventos... dos ventos gélidos do Norte e dos ventos joviais do Sul.
Porque somos treva e luz. Somos 0 e 1. 
Ao anoitecer, ao fim da lavoura, somos Carpe diem. 
No alvorecer, ebriosos e lascivos, somos Opus dei.

Somos o ontem e o amanhã, mas nunca o hoje. 
Para sempre seremos bicho homem. 
A dualidade do bem e do mal.

Para nós não existe meio termo ou um caminho do meio. 
Ora somos vida, outrora somos morte.

Efêmeros e eternos, senhores e escravos de nossos desejos.